Terça-feira, 16 de Outubro de 2007

O "Che" versão Teerão

Nos últimos anos foram publicadas algumas obras de investigação histórica sobre Che Guevara – algumas que se limitam a citar as memórias do próprio – que nos dão uma imagem bastante mais negra do personagem do que aquilo que faz parte da biografia oficial que chegou aos nossos dias.

Ernesto Che Guevara, longe de ser um romântico revolucionário partidário de causas perdidas, esteve pessoalmente envolvido nos piores massacres cometidos pelo regime castrista imediatamente após 1959, quer das centenas de partidários do anterior regime, quer dos que participaram na invasão da "Baía dos Porcos", quer de anónimos camponeses tidos como traidores ou mesmo de vulgares ladrões.

A última tentativa de apropriação do mito com o objectivo de promover uma nova causa totalitária foi desenvolvida pelo regime teocrático iraniano em parceria com a Venezuela de Chavez através de uma conferência que decorreu na Universidade de Teerão denominada de "Che como Chamran", como nos esclarece Amir Taheri num interessante artigo que publicou no New York Post a 12 de Outubro, e de onde tirámos a generalidade das referências aqui utilizadas.

Mostafa Chamran foi iraniano partidário do fanatismo islâmico que se tornou cidadão americano nos anos sessenta e fundou posteriormente o "Amal", grupo de guerrilha xiita libanês que ainda existe, mas que antes de ser ultrapassado pelo Hezbollah era o principal grupo fanático islâmico do Líbano.

Em 1979 Chamran voltou ao Irão tendo-se tornado Ministro da Defesa de Khomeini em 1981, morrendo pouco depois, aparentemente, de forma acidental.

A ideia da conferência era exactamente a de casar os dois mitos, convidando para isso Mahdi Chamran, irmão de Mostafa e um dos homens de mão de Ahmadenijad, e os filhos de Che, Aleida e Camilo a dissertarem sobre eles.

A operação era notoriamente difícil, porque se há coisa que o fanatismo islâmico odeia mais profundamente do que a democracia, o liberalismo e o Ocidente, é o comunismo, marxismo ou qualquer outra forma de doutrina política próxima do ateísmo.

As coisas correram relativamente bem para os organizadores durante a maior parte da conferência, enquanto os vários oradores se dedicaram a invectivar os EUA e a democracia e a dar vivas à "revolução" mas o caldo acabou por se entornar quando um dos principais oradores, o coordenador da "Associação de Voluntários para o Martírio" Hajj Saeed Qassemi, homem chave na máquina terrorista do regime iraniano, resolveu esclarecer que o Che:

Era um homem verdadeiramente religioso que acreditava em Deus e odiava o comunismo e a União Soviética.

Tendo ainda acrescentado que:

Hoje, o comunismo foi despejado para o caixote do lixo da história, como foi previsto pelo Imam Khomeini (...) portanto, os progressistas em todo o mundo têm de aceitar a liderança do nosso movimento religioso pró-justiça.

Foi um sapo demasiadamente grande para ser engolido por Aleida que pediu o direito de esclarecer que: "O meu pai nunca falou em Deus" perante uma assembleia petrificada pela blasfémia.

Em resposta, Qassemi esclareceu que tanto Guevara como Castro apenas esconderam as suas crenças religiosas para assegurar o apoio soviético.

Já num outro encontro, na Universidade de Amir-Kabir, Camilo Guevara, apesar de frisar que o essencial que devia unir os "progressistas" era lutar contra os EUA, acabou também por repetir que o Che não acreditava em Deus.

A conferência desapareceu subitamente das agências noticiosas e da imprensa e os dois Guevara foram rapidamente convidados a deixar o país.

Duas semanas depois ninguém se pode admirar que a agência noticiosa oficial russa tenha noticiado um complot do fanatismo islâmico para assassinar Puttin quando da visita deste a Teerão.

Enfim, felizmente, o casamento das doutrinas comunista, nazi e fanática islâmica parece ser uma operação mais difícil do que o que pensaram os estrategos de Teerão.

 
Bruxelas, 2007-10-16

Paulo Casaca

publicado por nx às 20:42
link | comentar | favorito

Colaboradores

Paulo Casaca
Walid Phares
Raymond Tanter
Thomas McInerney
Alireza Jafarzadeh
Matthias Küntzel

posts recentes

A Europa e o Terrorismo

Paulo Casaca promove deba...

Paulo Casaca promove disc...

Ethnicity and Human Right...

Protecção do Campo de Ash...

O regresso de Fukuyama

Visita ao Iraque

Paulo Casaca orador em co...

Exemplo da Tunísia

E depois de Beirute?

O Hezbollah e a lista da ...

O relógio nuclear não pár...

Hipocrisia

Ameaças de Ahmadinejad

Paulo Casaca representa P...

Reviver Praga

A ameaça de holocausto nu...

A nova esquerda europeia ...

1948/2008 - 60 ANOS DA CR...

Testemunhos de Coragem

Judeofobia na Galiza

Paulo Casaca fala sobre “...

Reactor nuclear sírio

Paulo Casaca condena regi...

Paulo Casaca em várias in...

Os motins da fome

O Irão e a Al-Qaeda

60º Aniversário do Estado...

Paradoxos Iraquianos

A Mesquita de Al-Azhar

Notas soltas sobre o Jorn...

Conferência Internacional...

Conferência no Second Lif...

Novo livro de Walid Phare...

Conferência Internacional...

O velho Cairo e os novos ...

Paulo Casaca defende o re...

Paulo Casaca no “National...

Paulo Casaca em Washingto...

Irmandade Muçulmana na Eu...

Angelina Jolie e o Arcebi...

Resistindo à Lei islâmica

Exile Group Claims Iran I...

A manipulação dos direito...

Conferência promovida por...

A geopolítica do Gás

Protesto de Paulo Casaca ...

O sapatinho branco

European Friends of Israe...

Paulo Casaca assinala “Di...

arquivos

Setembro 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

tags

todas as tags

links

pesquisar

 
blogs SAPO

subscrever feeds