É a Pitágoras que se atribui a concepção do mundo como derivado dos números, sendo a escola pitagórica largamente caracterizada por esse factor, apesar de serem muitos os domínios em que Pitágoras se afirmou como um símbolo histórico inultrapassável.
Nesta acepção do termo, continuamos todos a ser pitagóricos e, talvez por isso mesmo, ninguém ficou indiferente aos cem dólares por barril de petróleo assinalados com o novo ano de 2008.
Trata-se de um número que já tinha sido largamente descontado e também de um número que resulta não só da alta do petróleo mas como também da baixa do dólar, o que lhe retira grande parte do significado, mas que não deixa de nos impressionar.
O petróleo sobe, e com ele sobem também as matérias-primas agrícolas, como os cereais e a soja e também o ouro, conjunção que se tem observado nas últimas décadas, mesmo se com importantes desfasamentos temporais, e isso é bastante negativo para a economia portuguesa.
Pelo contrário, a descida do dólar, para uma economia como a portuguesa muito dependente de matérias-primas denominadas em dólares é mais uma boa notícia do que uma má notícia, dada a pequenez do nosso movimento exportador para a área dólar.
Indirectamente, e na medida em que a descida do dólar possa ser vista como negativa para a globalidade da economia europeia, ela poderá revelar-se também como negativa para o nosso país, porque ele reflecte acima de tudo o movimento económico registado na União Europeia.
Pela minha parte, não penso que a evolução que estamos a observar e que prolonga aquilo que se tem passado nos últimos anos seja necessariamente negativa.
O que me parece essencial é que esta evolução seja acompanhada dos passos seguintes:
(1) Substancial reforço da energia inteligente, com mais produção económica com menos energia, com mais capacidade de utilizar energias alternativas e fundamentalmente renováveis;
(2) Continuação e possível reforço da capacidade de recirculação de excedentes económicos por parte do Médio e Extremo Oriente de forma produtiva na economia mundial;
(3) Reforço dos mecanismos multilaterais de cooperação e comércio sem reinício de guerras comerciais ou proteccionismos;
(4) Funcionamento das flutuações cambiais como mecanismo corrector de desequilíbrios permanentes, com a baixa do dólar a corrigir os excessos da economia americana, correspondendo a uma real valorização das moedas de países exportadores asiáticos como a China.;
Independentemente do cenário mundial, temos no entanto de ter em conta que, no contexto europeu, o Sul da Europa – e muito em particular Portugal – apresentam sintomas de uma crise de competitividade que não pode naturalmente ser respondida pela via cambial mas que também não encontra outra forma de resposta.
A permanência de défices comerciais externos muito significativos, agravados agora pelo movimento de invisíveis, onde vemos reflectida a realidade de termos cada vez mais imigrantes e de sermos mais devedores ao estrangeiro, é um desequilíbrio que não se pode eternizar, e para o qual temos de encontrar resposta numa dinamização económica que nos continua a faltar.
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