Com "O Fim da História", Francis Fukuyama passou da categoria de anónimo politólogo americano a um dos mais mediáticos pensadores políticos contemporâneos, posição em que, duas décadas depois – “O Fim da História” foi editado em 1989 e refere-se a 1989 – continua a ocupar a par de outros, como Thomas Friedman e Fareed Zakaria, e é de leitura obrigatória, para quem se interessa por política internacional.
Depois de, se não me engano, há dois anos, ter feito o epitáfio do neo-conservantismo (de que ele foi um dos mais conhecidos autores), Fukuyama surge de novo em posição de destaque, a propósito da nova vaga de preocupações com o renascimento do autoritarismo post ou proto-comunista da Rússia, China ou Venezuela (Washington Post, editado pelo Público de 31 de Agosto).
A mensagem de Fukuyama é, como sempre, clara, simples e directa e, na minha opinião imprescindível no actual momento político: é preciso fazer a distinção do autoritarismo não ideológico em relação às ideologias do autoritarismo (resumo da minha responsabilidade).
O nacionalismo russo, da mesma maneira que o chinês e que a demagogia de Chávez, por pouco recomendáveis que sejam e por mais problemas que nos tragam, não são [ou não são por agora, na minha opinião] construções ideológicas passíveis de se erguer em oposição aos valores da democracia liberal, "o único verdadeiro rival da democracia no campo das ideias, actualmente, é o islamismo radical. De facto, uma das mais perigosas nações-Estado do mundo hoje em dia é o Irão, controlado por mullahs xiitas extremistas" (Fukuyama, op. cit.).
Se mudarmos "uma das mais" por "a mais" temos o que eu tenho andado a dizer há vários anos e exactamente pelas mesmas razões que nos são agora apresentadas por Fukuyama.
Se Fukuyama quiser continuar a sua linha de raciocínio, talvez venha a entender melhor a razão de ser da falência do neo-conservantismo e do desastre político que a precipitou (a operação iraquiana), que é precisamente o de confundir um ditador em fim de linha com o único desafio consistente e real aos valores civilizacionais modernos.
Por enquanto, a mensagem de Fukuyama parece-me essencial: o Ocidente, e muito em particular o Estado-Maior americano, estão outra vez a errar completamente a pontaria ao disparar para Moscovo, e se continuarem por este caminho, vão conduzir-nos a desastres semelhantes aos que nos levaram quando resolveram fazer explodir Bagdade.
Tenho pelas democracias o respeito crítico que foi celebrizado por Churchill, e entre as virtudes que não lhe reconheço é a da imunidade à miopia e insensatez.
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