Paulo Casaca
Oświęcim, 27-01-08
Vinte e sete de Janeiro de 1945. As tropas soviéticas chegam a Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração e extermínio construído pela Alemanha Nazi e onde terminaram os seus dias milhão e meio de pessoas, na sua maioria judeus, mas também ciganos e resistentes de várias nacionalidades e ideologias.
As imagens ficaram gravadas para a posteridade, montanhas de corpos esqueléticos que não tinha havido tempo para remeter aos fornos crematórios e muitos outros à beira da morte por fome e doença, descomunais montanhas de sapatos, malas, escovas, objectos pessoais dos exterminados.
Começou aqui o desmontar da máquina assassina mais devastadora de toda a humanidade e da imensa cortina de silêncio que o Nazismo e aqueles que com ele contemporizaram fizeram cair sobre o holocausto.
Alguns dias antes, precisamente a dezoito do mesmo mês de 1945, um jovem judeu, Marian Tursky, que tinha sido remetido ao campo depois da limpeza do gueto de Llodz, a Ocidente de Varsóvia, em Agosto de 1944, era transferido com outros seiscentos judeus.
Sessenta e três anos mais tarde, sentado à minha frente e ao lado do meu camarada e amigo João Soares, no Rubinstein, restaurante da antiga Judiaria de Cracóvia, o agora ancião sobrevivente conta como fez uma marcha contínua de 49 quilómetros, durante duas noites e um dia, até ao próximo entroncamento ferroviário. Muitos não o conseguiram e foram sumariamente abatidos com um tiro na nuca, mas ele continuou até entrar no vagão que o conduziu a Buchenwald, aonde dezasseis dos seus companheiros chegaram sem vida.
De Buchenwald, perante o avanço soviético, passou a Terezin, nos Sudetas, anterior campo de concentração modelo Nazi, onde as tropas soviéticas o iriam encontrar para o levar a um hospital.
No domingo, dia 27, já em Auschwitz-Birkenau, Marian Tursky foi o guia da delegação dos Amigos Europeus de Israel que celebrou o 27 de Janeiro, o dia do Holocausto, com uma homenagem às vítimas do nazismo realizada com uma deposição de flores em Auschwitz e um acender simbólico de velas numa breve cerimónia religiosa em Birkenau e que terminou na pequena sinagoga de Oświęcim, a antiga cidade judaica que se encontra na margem contrária do Sola.
Deslocação num dia cinzento que terminou debaixo de neve, retenho dela, mais do que qualquer outra coisa, o pequeno sapato de criança que ladeava uma pilha descomunal de sapatos em exibição no pavilhão número cinco de Auschwitz.
No processo de selecção que era feito à entrada as crianças nunca tinham hipótese e eram sistematicamente conduzidas às câmaras de gás, e aquele sapatinho branco, tão parecido aos que calçam as meninas que entre nós levam a bandeira do Espírito Santo, era certamente de uma menina dos seus cinco anos, de uma família a quem tinham prometido a relocalização para esconder a solução final.
Sessenta e três anos depois, continua a haver quem insista na negação do holocausto, à frente dos quais se encontra o Presidente da República do Irão, que organizou mesmo com esse objectivo conferências internacionais.
A negação do holocausto por parte de quem assassina os seus opositores políticos, invade e aterroriza os países da região e prepara uma arma nuclear, não é uma atitude académica, é um instrumento indispensável à prossecução de uma estratégia que aposta na destruição de Israel mas que não tenciona ficar por aí.
Ontem como hoje, recordar o holocausto, recusar cair na teia argumentativa do anti-sionismo, homenagear os mortos e trabalhar com os vivos para impedir a repetição do holocausto, são imperativos políticos de primeira importância.
O primeiro dia da deslocação compreende um encontro de trabalho, em Cracóvia, com o Rabi Michael Schudrich, o líder da Comunidade Judaica local, Senhor Jakubowicz, e o Embaixador de Israel na Polónia, David Peleg.
No domingo, a Delegação do EFI, organização de que Paulo Casaca é membro fundador, integrando actualmente a sua Comissão Executiva, visita os Campos de Concentração do Regime Nazi de Auschwitz e Birkenau, onde irá prestar homenagem às vítimas do Holocausto através da colocação de grinaldas de flores nos locais onde se estima que mais de 1,5 milhões de judeus tenham sido exterminados.
Para Paulo Casaca, esta missão representa uma oportunidade para reafirmar o compromisso pela defesa dos valores da democracia contra os regimes totalitários, todos os géneros de violência, intolerância, racismo e anti-semitismo no mundo.
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