Segunda-feira, 7 de Abril de 2008

Paradoxos Iraquianos

Paulo Casaca

A trégua conseguida pelo General David Petraeus, por parte do líder radical xiita Muqtada Al-Sadr, foi dos mais importantes sucessos estratégicos americanos no Iraque em 2007 e, contrariamente ao que se possa pensar, os actuais confrontos com as suas milícias são um revés de consequências potencialmente desastrosas.

O General Petraeus estudou e entendeu o que há de mais importante a compreender na história recente do Iraque, nomeadamente o facto de as principais correntes religiosas xiitas iraquianas se terem fortemente dividido nas três últimas décadas entre uma corrente nacionalista iraquiana "Al-Sadr" e uma corrente xiita pró-iraniana de que a família mais importante é a "Al-Hakim", família que veio do Irão para o Iraque em meados do século XIX e cuja origem é libanesa.

As duas correntes são igualmente partidárias de uma leitura extremista do Islão, mas enquanto a primeira alinhou com as forças leais ao país na guerra com o Irão a segunda integrou os destacamentos dos Guardas Revolucionários Iranianos (Pasdaran) na guerra contra o seu país de origem.

Quando os EUA resolveram invadir o Iraque, trouxeram na sua ilharga as facções iraquianas que o Irão armou e financiou desde o início da década de oitenta e que utilizou, desde então, na sua guerra contra o Iraque e depois em actividades terroristas neste país e na região do Golfo, nomeadamente as brigadas BADR, formadas como destacamento dos Pasdaran.

Foram as facções iranianas do Xiismo Iraquiano aquelas que ocuparam imediatamente o centro do poder e que, por essa razão, continuam a ter os lugares principais no Governo do Iraque, com um pequeno interlúdio quando os EUA resolveram convidar o mais pró-ocidental dos líderes iraquianos – Ayad Al-Alawi – para Primeiro-Ministro.

Moqtada Al-Sadr foi das primeiras figuras que se distanciou desta dupla ocupação do Iraque, pelos EUA e pelo Irão, tentando tirar partido do seu inequívoco apoio popular. O regime iraniano, de forma inteligente, ao mesmo tempo que utilizou os EUA para impor os seus homens de mão no controlo do Iraque, foi financiando todo o tipo de rebeldes que tornassem a presença dos EUA insuportável.

A estratégia de Al-Sadr está a atingir os seus limites, porque o apoio iraniano foi um apoio envenenado: por um lado deu armas e dinheiro e, por outro, infiltrou as milícias de Al-Sadr de Pasdaran e dos piores gangsters existentes no Iraque.

O crescente envolvimento destes elementos, não controlados por Al-Sadr, em ataques contra os EUA e a população fez com que a declaração de guerra do Governo iraquiano às milícias de Al-Sadr – que sem dúvida foi apadrinhada por Teerão – não pudesse ser contestada pelas forças americanas.

O afastamento ou a secundarização das milícias de Moqtada Al-Sadr virá assim apenas reforçar o controlo da situação no Iraque pelo regime iraniano.

publicado por nx às 12:19
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