Segunda-feira, 4 de Fevereiro de 2008

A geopolítica do Gás

Paulo Casaca

O chefe da diplomacia iraniana veio a Portugal anunciar que o seu Governo estava a ponderar uma proposta de investimento nos seus campos de gás por parte de uma empresa portuguesa. Sem perder o fôlego, fez ele também saber que pretendia a bênção do nosso país para o seu programa nuclear.

Na declaração política de resposta o chefe da nossa diplomacia tentou minimizar o óbvio embaraço provocado por tão ostensiva proposta negocial, afirmando que apoiava a posição da comunidade internacional em matéria de programa nuclear e não se referindo ao negócio do gás.

A forma como ele juntou a estas palavras a garantia de que nada tinha a obstar a um programa nuclear pacífico, em vez de soar como uma dádiva ao regime de Teerão, soou como a confirmação de que as sanções internacionais se deviam ao facto de o programa nuclear iraniano não ter fins pacíficos.

Tratou-se na realidade de utilizar uma forma diplomaticamente arguta para dizer que o posicionamento nacional em matéria de proliferação nuclear não poderia ser condicionado por qualquer relação comercial de qualquer empresa, apesar de não se tratar de qualquer empresa e de não se tratar de um domínio económico qualquer.

A Áustria, maior investidor no gás iraniano é, já há algum tempo, o país que mais defende o regime e mais se opõe a quaisquer sanções ao Irão.

Nesta matéria, de resto, o Irão pouco ou nada inova, sendo que a Rússia, como é público e notório, usa e abusa do mesmo mecanismo sem sequer se preocupar em disfarçar com linguagem diplomática a utilização da sua arma energética.

A Rússia não hesita mesmo em modelar a tabela de preços que pratica ao nível de alinhamento político da sua clientela, como também não teve qualquer pudor em oferecer a um ex-chanceler alemão um lugar na administração de uma subsidiária suíça da sua maior empresa no ramo energético, ou ainda ligar ostensivamente a sua oposição à independência do Kosovo a um negócio de gás com a Sérvia.

Curiosamente, foi precisa a presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros Iraniano entre nós para que esta questão se tornasse notícia de primeira página, parecendo que a diplomacia iraniana considera que a cenoura do negócio pressionará a opinião pública no sentido dos seus interesses.

Esta situação de fundo coloca em foco a necessidade de se saber quem em Portugal estará disposto a fazer o quê para que uma empresa portuguesa fique com o negócio do gás no Irão.

Pela parte do responsável primeiro da nossa diplomacia assistimos a uma posição de grande firmeza que não posso deixar de registar com muita admiração e respeito.

O plano nuclear de Teerão é um plano concebido por quem inventou o terrorismo moderno, ou seja, o assassínio suicida em larga escala por motivos religiosos. Não existe qualquer racionalidade civil para o programa nuclear iraniano. Todo o stock de urânio naturalmente existente no Irão tem um potencial energético inferior ao que resultaria do aproveitamento do gás que é queimado, sem aproveitamento, na exploração do petróleo durante um ano. O Irão está empenhado hoje num plano de expansão em toda a zona, do Afeganistão ao Líbano e principalmente no Iraque, fomentando o terrorismo e a desestabilização.

Fechar de olhos a todos estes factos seria a maior das cegueiras que poderíamos promover em Portugal, e eu só espero que todos os portugueses que lidam com estes dossiers dentro ou fora do nosso país, tenham a mesma lucidez e independência que o nosso Ministro dos Negócios Estrangeiros. 
publicado por nx às 12:19
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