Terça-feira, 23 de Setembro de 2008

A Europa e o Terrorismo

Paulo Casaca

Com a colaboração de quatro colegas de diferentes países e de diferentes grupos políticos promovi, no passado dia 16 em Bruxelas, uma conferência intitulada "A Europa e o Terrorismo, ameaças e respostas" que contou com a presença de duas das personalidades mais importantes da União Europeia e da NATO na luta anti-terrorista; respectivamente Gilles de Kerchove, coordenador da União Europeia para a luta contra o terrorismo e Guy Roberts, Adjunto do Secretário-Geral da NATO para a política sobre Armas de Destruição Maciça e da política nuclear. Tivemos ainda connosco o Professor Yonah Alexander, director do Centro inter universitário para estudos sobre o terrorismo de Washington D.C. e a colaboração da B'nai B'rith International.

A perspectiva da NATO parece-me assentar em quatro bases e nenhuma delas me parece sólida. A primeira é a de que a luta anti-terrorista não pode ser limitada a um quadro jurídico. Trata-se da mesma doutrina americana que levou a retirar da alçada da justiça a luta contra o terrorismo e que acabou com listas de organizações terroristas e Guantanamo. Não só não respeita o Estado de Direito como também não é eficaz na luta contra o mesmo.

A segunda é a que Guy Roberts chama de rede de negação do terrorismo. É naturalmente fundamental pôr em rede todas as forças que estão contra o terrorismo, mas não é menos importante ter em atenção aquilo de que estamos a falar, para evitar manipulações. A esse respeito, as lições do Iraque e das pseudo ligações de Saddam Hussein à Al-Qaeda continuam por tirar.

Em terceiro lugar temos os aspectos defensivos e de dissuasão, que constituíram o essencial da sua mensagem. Também aqui me parece que as coisas não estão como deveriam estar. Pensar na dissuasão com o Irão nos mesmos termos em que se pensou com a União Soviética parece-me ser um erro crasso. Quanto às medidas de defesa, penso que o facto de a operação "Endeavour", que cobre todo o Mediterrâneo, nunca ter sido capaz de detectar qualquer material terrorista indica bem a limitação da medida.

Em quarto lugar, temos a capacidade de resposta na gestão de catástrofes. Aqui ficámos a saber, por exemplo, que se estava a construir o primeiro hospital bio-imune do mundo, na República Checa, o que não me parece ter sido tranquilizador para ninguém.

Mais do que isso, a ausência de qualquer referência à compreensão ideológica e histórica do fanatismo islâmico, onde assenta o moderno terrorismo, pareceu-me ser um erro grave de perspectiva.

Depois tivemos Gilles de Kerchove, que para além de se mostrar menos preocupado com o fenómeno do terrorismo resolveu afunilar o problema na "Al-Qaeda", como se esta organização se pudesse compreender fora da ideologia que a sustenta e de quem a apoia, na lógica do apaziguamento com o fanatismo.

O diálogo com os partidos islâmicos – apresentados como reformistas, em vez de reaccionários – foi apresentado como solução, no lugar da cooperação com os verdadeiros reformistas e com as minorias dos países islâmicos, numa pura lógica de apaziguamento do inimigo, colaboração no esmagamento dos aliados.

A esse propósito chegou-se mesmo ao ponto de invocar a liberdade de expressão para não proibir a "Al-Manar" – canal de televisão do Hizbullah especializado na promoção do racismo, xenofobia e fanatismo.

Das questões colocadas sobressaiu a de um jornalista curdo, Roni Alasor, que pôs em evidência a contradição entre a suposta confrontação do Ocidente com o Irão e a forma como o Ocidente fechou os olhos ou permitiu a libertação antecipada dos iranianos e libaneses do Hizbullah, assassinos dos dirigentes do PDK iraniano, em Viena e em Berlim.

No rescaldo do debate fiquei convencido de que o Ocidente continua a não querer entender que por trás do moderno terrorismo há uma ideologia e uma geopolítica, e que não é nem exclusivamente com meios militares nem através do apaziguamento que se pode e deve enfrentar o problema.  

publicado por nx às 12:00
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Sexta-feira, 16 de Maio de 2008

Reviver Praga

  Paulo Casaca

Apenas saído do avião no Aeroporto Internacional de Beirute, mesmo à entrada da manga, fui logo interceptado, convidado a descer umas escadas e a entrar num Mercedes que, ziguezagueando entre aviões e viaturas aeroportuárias, me levou a um grupo de militares que nos próximos dias não me largaram.

Foi assim que eu entrei em Beirute, há uns anos atrás, e isto porque, como me explicaram os meus amigos, a "segurança" do aeroporto estava nas mãos do Hizbullah, ou seja, do mais notório dos grupos terroristas a mando de Teerão.

Em Maio deste ano, o Governo libanês parece ter tido a veleidade de querer parar com este estado de coisas em que o principal aeroporto do país serve de placa giratória a todo o tipo de armamento e de profissionais do terrorismo. Essa veleidade custou-lhe a ocupação do país pelas hordas do Hizbullah dirigidas, treinadas e financiadas pelos guardas revolucionários iranianos que colocaram em prisão domiciliária os principais dirigentes do país, destruíram as infra-estruturas da comunicação social que não controlam, liquidaram dezenas de pessoas e, finalmente, aceitaram retirar-se quando receberam garantias de que não iriam voltar a ser incomodados.

Tudo isto foi presenciado, consentido e justificado não só por umas forças armadas libanesas paralisadas mas também por milhares de soldados europeus que estão no Líbano para supostamente garantir a paz mas que na realidade só conseguiram criar condições para a intensificação da guerra.

Tal como há setenta anos atrás se fez com a invasão e destruição da então Checoslováquia pelos Nazis, também agora os intrépidos arautos da política do apaziguamento explicam que o governo libanês tinha feito uma provocação, que se tratava de lutas entre facções libanesas, que finalmente nem tudo está tão mau assim porque as hostilidades pararam.

Há anos que venho alertando para o suicídio colectivo que representa a política ocidental do apaziguamento em relação à ameaça do fanatismo teocrático iraniano, de que o Líbano é apenas um dos palcos.

Há anos que venho alertando para a necessidade de abrir os olhos, de entender que não podemos vender a alma pelo petróleo, que o fanatismo islâmico não vai parar em Beirute.

O que vai ser preciso para que se entenda que o Líbano não é mais do que a antecâmara de todo o Médio Oriente, e este, do que se pode vir a passar em todo o mundo? 

publicado por nx às 12:16
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Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2008

A manipulação dos direitos humanos

   Paulo Casaca

Com o título "A Jornada da Morte, mais de 700 prisioneiros ilegalmente levados para Guantanamo com a ajuda de Portugal", uma organização britânica resolveu desencadear um violento ataque a Portugal e ao Parlamento Europeu, cuja comissão temporária - que chegou a conclusões radicalmente diferentes - tinha também sido presidida por um deputado português.

O relatório branqueia, por omissão, a actuação de uma série de países que, de acordo com a investigação parlamentar europeia, colaboraram efectivamente em violação do direito nacional e internacional na prisão secreta de suspeitos de actos de terrorismo, mas resolve acusar da "Jornada da Morte" exactamente um país que não teve qualquer colaboração ou actuação ilegal nessa matéria.

Para chegar a este extraordinário resultado, o relatório elabora um intrincado e absurdo raciocínio relativo aos pesos de detidos em Guantanamo, divulgado por um site das autoridades americanas, e a trajectos de aviões que terão atravessado o espaço aéreo nacional em direcção a essa base norte americana.

De facto, tendo em conta a dimensão do espaço aéreo nacional e a sua utilização pela esmagadora maioria do tráfego transatlântico, é de presumir que a generalidade do tráfego de quem quer que seja que foi para essa base norte-americana através do Atlântico tenha utilizado o nosso espaço. Concluir daí que somos um país de assassinos é grotesco.

Com base em raciocínios semelhantes, e apesar de os responsáveis da organização terem confessado à TSF que nenhum dos seus clientes entrevistados confirma ter passado pelas Lajes, apesar de o responsável norte-americano do destacamento das Lajes ter categoricamente negado que isso possa ter acontecido e apesar de o Governo português negar que alguma vez o tenha autorizado, a organização acusa Portugal de ter dado apoio a alguns desses aviões.

Essa organização diz que defende "direitos humanos" o que, infelizmente, parece ser cada vez mais frequente entre quem, servindo-se deste argumento, pretende atingir resultados políticos que nada têm de humanitários.

Em primeiro lugar, a defesa dos direitos humanos tem princípios e regras consignados em protocolos internacionais como o de Istambul, algo que foi grosseiramente violado pelo relatório desta organização.

Em segundo lugar, os direitos humanos têm de ser defendidos com algum critério humano. Que uma organização internacional resolva praticamente só falar de um Estado no mundo em relação à pena de morte, quer dizer que ela se preocupa mais em atacar esse Estado do que em lutar contra a pena capital.

Pior ainda, é constatar que, de acordo com o site dessa organização, a única vez que a REPRIEVE / Reino Unido resolveu fazer um relatório sem incidir sobre os EUA, ela escolheu como parceira a "Cageprisoners" e tratou de presos no Quénia, na Somália e na Etiópia que têm uma única coisa em comum com a vasta maioria dos seus clientes: são suspeitos de pertencerem à Al Qaeda.

A "Cageprisoners", como é assumido no seu site, é uma organização que se reivindica do Islão e que faz a apologia indiscriminada dos presos acusados de actos de terrorismo religioso islâmico.

Toda a gente tem direitos, incluindo os acusados dos actos mais desumanos da nossa era, e a ausência de respeito por esse princípio causa certamente consternação a todos os que crêem na universalidade dos direitos humanos.

Daí a deixar que se utilize o pretexto dos direitos humanos para glorificar o fanatismo mais bárbaro, para acusar de assassínio quem se recusa a pactuar com esse fanatismo, há um abismo que ninguém pode ser autorizado a transpor.

Com esta sua acção, a REPRIEVE / Reino Unido está a fornecer justificação para actos de terrorismo no nosso país, usando para isso argumentos que não têm qualquer sentido. Trata-se de uma atitude inaceitável.

publicado por nx às 16:51
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Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2008

Conferência promovida por Paulo Casaca sobre o Irão mobiliza "mundo diplomático" de Bruxelas

O Deputado Paulo Casaca promoveu esta quarta-feira, em Bruxelas, uma conferência destinada a avaliar a resposta europeia às implicações que decorrem da incessante procura de influência regional evidenciada pelo Irão no domínio da segurança no Golfo, proliferação nuclear e apoio a organizações terroristas.

 

A iniciativa, levada a cabo conjuntamente com a Deputada Jana Hybaskova com o apoio da "Réalité EU", organização sem fins lucrativos que desenvolve um serviço para jornalistas e outro tipo de analistas com base em assuntos do Médio Oriente, juntou nas instalações do Parlamento Europeu cerca uma centena de participantes, na sua maioria membros de corpos diplomáticos, nomeadamente Embaixadores e outros diplomatas de países como a Arábia Saudita, Afeganistão, Brunei, Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Eslovénia, Espanha, Irão, Irlanda, Israel, Kuwait, República Checa, Roménia e Suécia, para além de inúmeros deputados europeus e jornalistas.

 

Os oradores deste evento foram Sami Alfaraj, Presidente do Centro de Estudos Estratégicos do Kuwait e Conselheiro de Segurança Nacional do Secretário Geral do Conselho de Cooperação do Golfo, Simon Henderson, especialista em assuntos políticos em estados conservadores do Golfo Pérsico e questões de política energética e antigo correspondente da BBC e Financial Times, Richard Kemp, que foi chefe dos serviços secretos britânicos e comandante das forças do Reino Unido no Afeganistão, e Claude Moniquet, Director do Centro Europeu de Estratégia e Informações e antigo membro dos serviços secretos franceses.

publicado por nx às 15:19
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Colaboradores

Paulo Casaca
Walid Phares
Raymond Tanter
Thomas McInerney
Alireza Jafarzadeh
Matthias Küntzel

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